domingo, 13 de dezembro de 2009

DEBRUANDO A LUZ...



Disseste que os teus olhos já não conseguiam debruar a luz como faziam antigamente…que agora tacteiam a memória, mas enganam-se, frequentemente, na paisagem.
Não esqueceste a fragrância do desejo, entre fráguas e a verdura das encostas, por entre a limpidez do murmúrio das águas. Por isso, manténs as portas entreabertas e subsiste no teu colo uma infância por crescer. Abrigar-me-ás, decerto, em noite de lua cheia. Habituado ao ritmo dos sapais, acatarei a próxima maré para te acolher, tufos de verde acariciarão os teus cabelos em reflexos desfocados pelo movimento lânguido das águas do estuário.

A voz terá sempre um timbre inconfundível, prenhe de iodo e limos. Eu, aguardarei apenas a ténue luz dos vaga-lumes para assistir ansioso à tua chegada, roupas coladas ao corpo naquele teu jeito insinuante de faz-de-conta. Ainda hoje, sinto o movimento das tranças presas no exacto momento em que um inesperado eclipse do luar deixara a tua pele, deliciosamente branca, nas minhas mãos acabadas de acordar. Surripiei-te, então, tudo o que tinhas e comigo guardei – precioso bem! – uma vermelha flor liquefeita, daquele primeiro dia em que fiz amor contigo.

“Poemas para Cibele”

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