sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DANÇA DAS CORES





DANÇA DAS CORES

Está de moda, dizes, o fogo de artifício,

cores e efeitos, sob um céu estrelar.


No sentido inverso à direcção do vento,

entre as amuradas dos navios ancorados,

sopra uma inesperada brisa terna e cálida,

que afaga delicadamente os nossos corpos.


Nesta dança de cores e sentimentos,

é a festa da luz, rodízio de ternura,

do azul ao cinzento, forma pura.
 
 
arlindo mota
 
foto: apm

domingo, 23 de setembro de 2012

PRECOCEMENTE, O OUTONO


PRECOCEMENTE, O OUTONO


Dantes tinha muitos amigos, bebíamos e cantávamos enquanto o rio desaguava a desoras no cais da ribeira, junto às margens do teu corpo. Não tínhamos sede, nem pressa de chegar. A vida em delta, foi-nos separando, mas tudo parecia continuar a fazer sentido.

 

Agora, os amigos desse tempo abrigam-se quase todos na memória, o céu mudou de cor e já não há mar que nos sossegue.

 

Quero de volta o azul e não consigo. Telefono, escrevo, envio mails, mas sinto-me estranho na vídeo-conferência.

 

Levantamos os copos – que estão vazios ou meio-cheios – numa comunhão que antes entendia ser perfeita e sinto que já não há sagração possível. O tempo, diz a meteorologia e a cor dos teus cabelos, mudou...

arlindo mota

foto: apm

sábado, 15 de setembro de 2012

POETA DO MÊS: ALEXANDRE O`NEIL


PORTUGAL

 

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testastarudo, mas embolado e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal, o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

 
( Feira Cabisbaixa, 1965)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

SUMÁRIO BREVE


SUMÁRIO BREVE

Comemorámos nosso dia de anos

Eu, numa margem, tu na outra,

Entre paisagens ainda apetecidas

- Nisso não houve discrepância
 
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Sumariámos, céleres, o assunto

O vento, de nortada, selou a despedida
 
arlindo mota
 
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A PRIMEIRA PEDRA


                                          Foto de apm de uma escultura de Rodin
 

 


A PRIMEIRA PEDRA

 

A amálgama daqueles  dois corpos

 restituíra a cor ao espelho de água

- impregnado  de sombras e limos -

como se fora a primeira pedra

 

Escultores de linho, os dedos

cinzelavam a silhueta dos corpos

fixando as pregas, insinuando as

 formas, destacando as faces,

 enquanto  as águas indolentes do lago

- onde se soerguia uma sereia -

 se espraiavam por entre o casario




arlindo mota