domingo, 18 de setembro de 2011

PELA NORMA CONSENTIDO





Não é a simples presença

A razão que aqui me traz

Sem receber qualquer tença,

Mas esperança de encontrar

Lugar onde pontifique

Um poeta, mesmo alvar,

Em vez de Pina Manique.


Não que me sinta atraído

Pelos salões decadentes,

Por onde coço o umbigo,

Entre senhoras contentes,

E outros irreverentes

Pela norma consentido.



arlindo mota


(Poema inédito criado para participar numa interessante iniciativa comemorativa do Dia de Bocage, na cidade de Setúbal, sujeito ao mote "Pela Norma Consentido", em 1986).

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

DÁDIVA DIVINA

































Cibele obstinada, tensa

ia recriando a obra divina

pelo seu ventre escorria

fogo e mel

como se fosse um favo

ou lava de vulcão


assim decorreu o tempo

afeiçoando nas mãos

o seu sonho de eterna glória

Adão e Eva, milagre da criação,

que se fundia finalmente nela




arlindo mota

Foto: apm de uma pintura pública

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PARÁBOLA



Angustiado e humilde, procurou um proclamado sábio cuja fama irradiava por todas as terras e lugares.

Ao chegar junto dele indagou sobre o que lhe poderia ensinar sobre a vida. “Nada” respondeu o sábio”. Nada? “Nada, meu amigo” enquanto esboçava um sorriso inequivocamente bondoso.

O peregrino não satisfeito com a resposta voltou à carga: “Mas tens fama de ajudar os que te procuram e de sempre lhe valeres”.

“Não fui eu que a criei”, ripostou. “Mas diz-me: verdadeiramente ao que vens?”

“Busco encontrar um sentido para a minha vida, e não vislumbro, e mais de meia vida é já tornada”

“Se procuras tão persistentemente algo de tão raro e difícil então não precisas decididamente de conselhos. Apenas tens de seguir o teu caminho, que já o encontraste”.


arlindo mota

foto: apm