sábado, 27 de agosto de 2011

ROSTO















ROSTO


Provei em mim o vinho e o mosto

Das épocas festivas que passei

E o travo leve, exíguo, que senti

Era o desenho nítido de um rosto



arlindo mota



Foto: apm(De uma pintura do hall da loja HM em Madrid - antiga sala de espectáculos)

BOUTIQUE DOS RELÓGIOS PÚBLICOS



CASTELO DE VIDE

Foto: apm

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

POETA DO MÊS: JOSÉ GOMES FERREIRA


VIVER SEMPRE TAMBÉM CANSA

Viver sempre também cansa.
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
Folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
“Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela.”

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

Poema escolhido para ser dito pelo Grupo Cultural com base na Pró-Asociação dos Liceus dos anos 60 (Teresa Taborda, José Vasconcelos; Vitor Oliveira Jorge; Tito Cardoso e Cunha; José Arnaud; Teresa Bento; Arlindo Pato; Teresa Oliveira, entre outros) e que Eugénio de Andrade na sua Antologia considerou um dos mais belos poemas do século XX. Nascido em 1900, morreu em 1985 em Lisboa. O seu espólio encontra-se na Biblioteca Nacional.

Foto: Arquivo do Diário de Noticias

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

OBRA DIVINA































Miguel Ângelo, arqueado,

desenhava a obra divina

por suas mãos escorriam

saibro e mel

como se fosse um favo

ou liquido caminho

ali permaneceu longo tempo

para eterna glória do homem

sua criação.



arlindo mota


imagem: da internet