
GREEN GOD
Trazia consigo a graça
das fontes quando anoitece.
Era o corpo como um rio
em sereno desafio
com as margens quando desce.
Andava como quem passa
sem ter tempo de parar.
Ervas nasciam dos passos
cresciam troncos dos braços
quando os erguia no ar.
Sorria como quem dança.
E desfolhava ao dançar
o corpo, que lhe tremia
num ritmo que ele sabia
que os deuses devem usar.
E seguia o seu caminho,
porque era um deus que passava.
Alheio a tudo o que via,
enleado na melodia
duma flauta que tocava
(Eugénio de Andrade nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão. Dos maiores poetas portugueses de sempre deixou-nos uma obra extensa, original, onde sobressai uma sublime musicalidade.O poema Green God transcrito integra o seu primeiro livro "As Mãos e os Frutos" am)
4 comentários:
Uma belíssima escolha
Teu blog é sempre um espaço confortante.
Abraço
Eugénio de Andrade é um portador de sonhos, dos maiores da língua portuguesa e este poema. por ser dos primeiros, poderia ir caindo no esquecimento. e não merecia...
Grato pela leitura. Feliz Ano Novo
Caro Arlindo!
O teu poeta do mês é o meu poeta da vida. Eugénio de Andrade é um génio, um encantador de corações onde o homem emerge em palavras melodiosas. Ler Eugénio é reconfirmar o valor da terra, da natureza, do amor, mas também uma escrita de intervenção contra um mundo despido de sentimentos. Foi um prazer poder recordar este grande poeta na tua página. Um grande abraço Arlindo.
Enviar um comentário