segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

POETA DO MÊS: EUGÉNIO DE ANDRADE



GREEN GOD

Trazia consigo a graça

das fontes quando anoitece.

Era o corpo como um rio

em sereno desafio

com as margens quando desce.

Andava como quem passa

sem ter tempo de parar.

Ervas nasciam dos passos

cresciam troncos dos braços

quando os erguia no ar.

Sorria como quem dança.

E desfolhava ao dançar

o corpo, que lhe tremia

num ritmo que ele sabia

que os deuses devem usar.

E seguia o seu caminho,

porque era um deus que passava.

Alheio a tudo o que via,

enleado na melodia

duma flauta que tocava


(Eugénio de Andrade nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão. Dos maiores poetas portugueses de sempre deixou-nos uma obra extensa, original, onde sobressai uma sublime musicalidade.O poema Green God transcrito integra o seu primeiro livro "As Mãos e os Frutos" am)

4 comentários:

Filipe Campos Melo disse...

Uma belíssima escolha

Teu blog é sempre um espaço confortante.

Abraço

arfemo disse...

Eugénio de Andrade é um portador de sonhos, dos maiores da língua portuguesa e este poema. por ser dos primeiros, poderia ir caindo no esquecimento. e não merecia...
Grato pela leitura. Feliz Ano Novo

Coluna Dos Deuses disse...

Caro Arlindo!
O teu poeta do mês é o meu poeta da vida. Eugénio de Andrade é um génio, um encantador de corações onde o homem emerge em palavras melodiosas. Ler Eugénio é reconfirmar o valor da terra, da natureza, do amor, mas também uma escrita de intervenção contra um mundo despido de sentimentos. Foi um prazer poder recordar este grande poeta na tua página. Um grande abraço Arlindo.

Coluna Dos Deuses disse...
Este comentário foi removido pelo autor.