segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
POETA DO MÊS: ALEXANDRE O'NEILL
PORTUGAL
Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testastarudo, mas embolado e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal, o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
(Feira Cabisbaixa, p.211,1965)
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Alexandre O`Neill nasceu em 19 de Dezembro de 1924 e morreu 21 de Agosto de 1986, em Lisboa. Foi um dos poetas marcantes da sua geração, conciliando o surrealismo que o marcou indelevelmente com a mais brilhante tradição satírica da literatura portuguesa. Foto retirada, com a devida vénia, do site Tormentas.
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2 comentários:
Sonoro e sinuoso. Adorei.
Um beijo
...um dos maiores poetas da língua portuguesa que sabe bem ler agora e sempre... bj
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