segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PAÍS DE DESCOBERTAS




Sorvemos da raíz o paladar,

Dispensámos o sal e a pimenta,

Descobrimos a terra à beira-mar,

Nascemos num país de descobertas.



Foto e poema: apm

sábado, 26 de setembro de 2009

VIDA SEVERINA




Que se passa connosco, afinal, que vemos, ouvimos e não percebemos, que ignoramos, mesmo quando se passa ao nosso lado, a vida destes “retirantes” que João Cabral de Mello Neto tão bem descreveu nos seu poema dramático “Morte e Vida Severina” ?
São os navios do sonho que procuram as Canárias ou o bilhete de 500 euros para o paraíso Europa de qualquer lugar do Brasil.

Vida Severina esta onde já não são as pessoas que se deslocam para a fábrica, mas em que as fábricas são gigantescas autocaravanas, que deslizam incessantemente à procura de novos severinos. “Que morrem de fome antes dos trinta...”. Que nos sucedeu a nós, entretanto, que aprendemos a indiferença, seres esquálidos sujeitos à ditadura da moda e do ginásio, incapazes de cultivar a solidariedade activa, resignados perante o absurdo?

Texto e foto: apm

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ECLIPSE?

Cibele jamais imaginara que os homens

ousassem esconder o Sol, por não saberem

o que fazer com a luz.







Foto e poema: arlindo mota

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

DESEJO

Dissimulada, a névoa se dissipa,

Deixando a nu penhascos e represas

Por entre veios de água e fantasia

Onde faunos e sereias se recriam.

Do nada, como o vento de fugida,

Surge uma avenida junto ao mar:


Por ali, florira o desejo e se cumprira,

Por ali, brotara a seiva e o luar,

Aí queria ficar por toda a vida.





foto e poema:apm

AQUILES E A TARTARUGA

“Fizeste-me estugar o passo – tartaruga – e, no fim,

nem o teu rasto encontrei”. Que surpresa, Aquiles, se

ignoraste dos sentidos as emoções…




apm



foto: apm

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

COMO A ARTE DE FURTAR É MUITO NOBRE

Este texto é de um autor anónimo do século XVII, atribuído muitas vezes ao Padre António Vieira, nunca confirmado, e trouxe-o à colação a propósito disto e daquilo...(i.e. a arte é mui antiga e vai-se perpetuando, pela “eternidade e mais um dia”

“Mais fácil achou um prudente que seria acender dentro do mar uma fogueira que espertar, em um peito vil, fervores da nobreza. Contudo ninguém me estranhe chamar nobre à arte, cujos professores, por leis divinas e humanas, são tidos por infames. Essa é a valentia desta arte (…) de gente vil faz fidalgos, porque onde luz o oiro não há vileza.

E prouvera a Deus não tivera tanto de nobre, pois vemos que e tudo o mais que tem preço; e os sujeitos em que se acha são, por meus pecados, os mais ilustres. E para que não engasgue algum escrupuloso nesta proposição, com a máxima de que não há ladrão que seja nobre, pois o tal ofício traz consigo extinção de todos os foros da nobreza (…) entendo o meu dito segundo o vejo exercitado em homens tidos e havidos pelos melhores do mundo, que no cabo são ladrões, sem que o exercício da arte os deslustre, nem abata um ponto do timbre de sua grandeza.”

INTERIORES




Que rio atravessa a alma,

e a inunda de lodos e ramagens?

Indiferente a desejos e ternura,

incapaz de suscitar novas paisagens.



foto e poema: apm

A arte de furtar

A Arte de Furtar de Jorge de Sena

JORGE DE SENA

Os restos mortais de Jorge de Sena voltaram finalmente a Portugal, de uma forma porventura demasiado discreta para a dimensão do poeta e crítico literário que se vira obrigado a exilar-se no regime de Salazar.Associamo-nos publicando este poema da nossa antologia poética virtual "VERDES ANOS". apm


UMA PEQUENINA LUZ

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little light
una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.

(in FIDELIDADE, 1958)

domingo, 6 de setembro de 2009

FESTROIA: 25 Anos é muito tempo..



Teve início o 25º FESTRÓIA, desde há alguns anos fixado em Setúbal. Num país onde as grandes distribuidoras americanas ditam o que podemos ver, a simples existência deste certame é um evento a não perder, pela variedade de cinematografias em exibição, pelos filmes que provavelmente jamais serão exibidos em Portugal. Aqui deixarei um ou outro apontamento que a oportunidade e o tempo permitir. Destaque para o país convidado: República Checa. A não perder.


apm

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

FOTOPOEMA: Numa Palavra...




Dizer, numa palavra, que é o vento,

inóspito e glorioso das manhãs,

e assim, permanecer, para todo o sempre.