I
Foi no tojo das palavras,
no rigor da intenção,
que rebentei as amarras,
penetrando no que são.
Cortei as asas do tempo,
perfumei o meu olhar,
e adormeci ao relento,
sem ter pressa de acordar.
II
Como um vulgar marinheiro,
inventei-me num porão,
percorrendo o mundo inteiro.
Os portos foram surgindo,
mas nem por isso mais perto
me encontrei do destino,
como se fosse sumindo.
III
Percorri tudo, se é tudo
o que posso imaginar,
descobri novas paragens,
por cada nesga do mar,
viajei por latitudes,
ainda por localizar.
IV
Dobrei o cabo da esperança,
fundei o meu universo,
temi o vento e a bonança.
Não fui quixote, nem pança,
para tal, faltou-me o jeito.
V
Por fim, sentei-me num canto
- entre rio e outro rio,
entre mar e outro mar -
cansado de correr tanto,
indeciso no lugar,
aí fiquei até hoje.
Foto e poema: apm
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7 comentários:
Lindooo... Quase fez esquecer a Cibele, que espero que volte ao nosso convívio. É um belo momento de poesia!
Sofia
Estive ausente "em parte incerta"... Achei uma ideia interessante a antologia e a selecção até agora magnífica. Mas este poema é também de antologia. Parabéns e que a inspiração não lhe falte.
Até breve (Já agora, para quando próximo livro?)
Joana
Caro Arlindo,
antes de mais uma primeira nota para lhe dizer que gostei deste Canto Viajeiro mas o toque de ouro, para mim e até agora,foi mesmo o anterior: Desejo.
É curioso mas, talvez porque o sei ligado ao distrito de Setúbal, acontece-me muita vez, quando leio as suas palavras,"viajar" para lugares mágicos desta península extraordinária. Aconteceu-me com Pescadores e agora com este Desejo cuja leitura me leva rapidamente para os cumes da Arrábida. Talvez por causa dos 2 últimos versos...
Enfim, interpretações à parte, é um belissímo "pequeno" poema.
A segunda nota para lhe agradecer ter feito de mensageiro junto da Ivone Ralha que já me deixou uma mensagem no meu blog. Se voltar a ter oportunidade, diga-lhe por favor que já lhe deixei lá a forma de me contactar.
E muito obrigada, mais uma vez.
Um abraço.
Arlindo,
tenho por aqui andado a "passear", desde o "musgo", neste jardim-mar de palavras ... estou encantada! e, Poeta, é grande!nunca será um vulgar marinheiro!
boa semana
um sorriso :)
mariam
Olá poeta
Já fui entrando e me encantando:
amor à primeira vista.
Amo poesias, mas o que posso é só ler e sentir.
"Como um vulgar marinheiro,
inventei-me num porão,
percorrendo o mundo inteiro."
Grata pela presença em meu espaço.
Sempre estou aberta a diálogos com muito prazer dentro
de meus limites é claro, mas posso me ajeitar para estar a sua altura.
Volte mais vezes.
Beijos
Quem escreve expõe-se sempre, quem escreve poesia expõe-se mais ainda.A travessia é mais simples em companhia, parca que seja.Troca de opiniões, de olhares,que circunscrevem a partilha. A vossa visita traz sempre um pouco mais de luz.
Um abraço amigo,
arlindo mota
Este último comentário é para todas...ou só para a última, ou...penúltima...ou 1ª?
Venho aqui dizer coisas serias mas a brincatambém...gosto da criança que salta na seda das palavras..ou no linho - acho que gosto mais de linho.
em dia de chuva...até...
Cuidado com as cheias! Não vá o barco sofrer algum dano...
Sempre...
Mariz
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