OS DOIS SONETOS DE AMOR DA HORA TRISTE
1
Quando eu morrer – e hei-de morrer primeiro
do que tu – não deixes fechar-me os olhos
meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
e ver-te-ás de corpo inteiro.
como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
dentro de mim, se, então, tiveres coragem
fecha-me os olhos com um beijo.
Eu , Marco Pólo,
farei a nebulosa travessia
e o rastro da minha barca
segui-lo-ás em pensamento. Abarca
nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.
2
Não um adeus distante
ou um adeus de quem não torna cá,
nem espera tornar. Um adeus de até já,
como a algúem que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar
de novo para ti, no mesmo barco
sem remos e sem velas, pelo charco
azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
assim, mente. E se quiseres partir e o coração
to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.
Álvaro Feijó (1917-1941) publicou um único livro de poesia "Corsário", mas a sua voz apesar da sua curta vida deixou uma marca na poesia portuguesa.
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2 comentários:
Arlindo,
não conhecia este autor. gostei muito! obrigada p'la partilha.
boa semana
um sorriso :)
mariam
mariam,
morreu com 24 anos, escreveu no contexto do neorealismo, mas denota uma sensibilidade e um intimismo tão raros (a par de outros de clara matriz neorealista e bons...) que me apeteceu partilhá-lo, nesta breve antologia que gota a gota(pos a pubicando post) e intermitentemente, irei
publicando.
Tudo de bom no degelo...
arlindo
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