Os sentimentos, Cibele, são paisagens,
húmus,
campos de semeadura, se contêm
a
natureza honesta do granito.
Nesses
lugares eu teço, sem rebuço de
olhares.
As mãos ganham, então, um
sentido
mágico: entrelaçam-se, procuram
o âmago
do tempo nas profundezas
da terra,
cruzam-se e descruzam-se
desordenadamente.
Nesses
lugares, os olhos apelam
ao sonho,
à viagem, à maresia
dos
sentidos, assim o luar liberte
o iodo, agreste perfume das
marés.
arlindo mota
Catedral de Oviedo
Foto:
apm
MISTRAL
quando aparecia o mistral
as aves acolhiam-se aos beirais
da minha fantasia, faziam ninhos
e, desveladas, cuidavam das crias
que nasciam, sonhadas e bravias
amainava o vento e o alado corpo
regressava sibilino, atento e delicado,
próprio da brisa ou da leveza do linho,
ao pôr de sol em que se anuncia
nos seus olhos húmidos
a luz do dia.
arlindo mota
foto:
apm
SAUDADES
(Homenagem com endereço)
Eram poucas as palavras
que usava para falar,
umas vezes, por preguiça,
outras vezes, por ousar.
Mas no dia em que partiu,
o Sol parou por instantes
- milagres como só dantes
-
que, de espanto, pouco vi.
Foi, numa vaga de espuma,
para o outro lado da vida,
da vida que ele trocou
por coisa alguma.
arlindo mota
foto e poema