sábado, 27 de fevereiro de 2010

NUANCES


"Ana Coelho e José Antunes, são dois autores com uma envolvente e genuína pulsão pela poesia. Na escrita e nos gestos, que de gestos também se constrói a poesia.(...)

Ana Coelho navega mais suavemente nas palavras, é, de algum modo, o lado assumidamente feminino do livro; José Antunes, de escrita comedida, apresenta mais arestas na leitura e na interpretação da sua simbologia. Comum aos dois, a contenção vocabular e arredia da adjectivação excessiva, que torna a sua poesia rigorosa e límpida, dotada de uma invejável coerência interna"

(Arlindo Mota, in Prefácio)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NAS LEVADAS



NAS LEVADAS

demiurga, a água

transborda

por sobre o próprio

corpo,

submergindo os dedos

que buscam

alento,

à medida que a torrente

se lhes escapa.


sorrateira, num ímpeto

de cantata,

penetra fundo,

como uma adaga

em peito aberto,

pela dor.



nas levadas,

os pássaros já não cantam

nas suas margens,

apenas ressoam

ecos, pouco audíveis,

da tragédia.




arlindo mota

foto: Turismo da Madeira


*As “levadas” são cursos de água à volta das montanhas, construídos pelo Homem nos primórdios da colonização na Madeira, para levar água aos terrenos agrícolas inacessíveis. Eram uma das atracções da Ilha.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

TRAÇADO OBLÍQUO





















A terra é fresca, entumecida,

O fruto escasseia ou está ausente,

Aproxima-se o tempo de partida.


Que nada impeça

O traçado oblíquo da razão,

Nem o riso da criança,

Nem a ternura de irmão.


Percorrida em traços largos,

Ao sabor do vento forte,

Por entre o Sul e o Norte,

Da minha imaginação.


Nela encontro o que procuro.



Foto e poema: arlindo mota

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

MARIAM: FOTOPOEMAS






mariam é uma das mais antigas companheiras da blogosfera e da sedadaspalavras em particular: de talentos multifacetados, da poesia à fotografia e à pintura, goza ainda da rara capacidade de gerar amizade e ânimo através do gesto e da palavra certa, no momento certo. Desde o início que fez também sua a personagem Cibele que aparece em muitos dos posts desta seda das palavras: agradeço-lho por isso e pelo magnífico fotopoema que lhe dedica (e a selecção da música das Celtic Woman que com sensibilidade escolheu). O outro fotopoema, corresponde ao primeiro poema que comentei no seu blog, pois na memória também desagua a amizade construída. apm

Celtic Woman - the Voice

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

FRUTOS PROMETIDOS

I

De súbito recolho as velas

Ao abrigo do porto, da memória,

Enquanto as águas cintilam prateadas,

Reflectindo as faces desejadas.

II

Seguros são os frutos prometidos,

Que colherás de tanto semeares,

Entre as searas abertas pelos dedos,

Que o vento ondulará quando quiser.



Foto e poema: arlindo pato mota

domingo, 7 de fevereiro de 2010

SEBASTIÃO DA GAMA: ARRÁBIDA



(...)
Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia-a-dia...


Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama ("Poeta da Arrábida")

Em 7 de Fevereiro 1952, faleceu Sebastião da Gama, com 27 anos.Fica o modesto registo. Veja-se o blog da Associação Cultural Sebastião da Gama

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

AMIZADE




A Amizade


transporta-se no bojo

ou na raiz,

e, quando exígua,

está ao alcance

de uma mão,

pura,

é sua irmã,

e mesmo inerte

aperta-nos,

deixando uma marca,

húmida,

de ternura.



arlindo mota