Não era noite nem dia
Não era noite nem dia.
Eram campos campos campos
abertos num sonho quieto.
Eram cabeços redondos
de estevas adormecidas.
E barrancos entre encostas
cheias de azul e silêncio.
Silêncio que se derrama
pela terra escalavrada
e chega no horizonte
suando nuvens de sangue.
Era hora do poente.
Quase noite e quase dia.
E nos campos campos campos
abertos num sonho quieto
sequer os passos de Nena
na branca estrada se ouviam.
Passavam árvores serenas,
nem as ramagens mexiam,
e Nena, pra lá do morro,
na curva desaparecia.
Já de noite que avançava
os longes escureciam.
Já estranhos rumores folhas
entre as esteveiras andavam,
quando, saindo um atalho,
Veio
debruçou-se da encosta
com os cabelos caídos!
Não eram ladrão de estradas
Nem caminheiro pedinte,
nem nenhum maltês errante.
Era António Valmorim
que estava na sua frente.
Não era ladrão de estradas,
- Ó nena de Montes Velhos,
se te quisessem matar
quem te haverá de acudir?
Sob este corpo justinho
Uniram-se os seios de Nena.
- Vai-te António Valmorim
Não tenho medo da morte,
Só tenho medo de ti.
Mas já noite fechava
a saída dos caminhos.
Já do corpete bordado
os seios de Nena saíam
- como duas flores abertas
por escuras mãos amparadas!
Ai que perfume se eleva
do campo de rosmaninho!
Ai como a boca de Nena
se entreabre fria fria!
Caiu-lhe da mão o saco
junto ao atalho das silvas
e sobre a a sua cabeça
o céu de estrelas se abriu
Ao longe subiu a lua
Como um sol inda menino
passeando na charneca...
Caminhos iluminados
eram fios correndo cerros.
Era um grito agudo e alto
que uma estrela cintilou.
Eram cabeços redondos
de estevas surpreendidas.
Eram campos campos campos
abertos de espanto e sonho...
MANUEL DA FONSECA
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1 comentário:
Arlindo,
gostei muito da fotos. Tenho estado a ler, as suas palavras (seda) e as excelentes escolhas também. Muito bom!
boa semana
um abraço :)
mariam
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