domingo, 16 de maio de 2010
OS LOUCOS DA MINHA RUA
O ar que se respira, carbono negro, denso,
quase impuro, nada tem a ver com a cor,
nem com as guelras (do odor não me lembro),
vem da memória, dizes, talvez do coração,
pois nem o pulmão que o inspira, sente.
Assim se vão passando os dias, indolentes,
aqui no asilo, onde às árvores chamam gente,
e elas murmuram entre dentes, qualquer coisa,
que bem podia tratar-se de sementes.
Mas não, é coisa de doentes…
arlindo mota
foto de um quadro de Toni Puig
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8 comentários:
Meu caro
Peço desculpa, por ter anulado o meu comentário. Reparei que tinha cometido um erro...
Agora sim.
"O ar que se respira"...neste escrever sedento e, tão verdade do que se sente.
E as imagens, palavras contorno...:
"onde às árvores chamam gente..."
Direi...porque escrever GOSTO é pouco...momento de sorte este...num dia aziago ter este bálsamo cultural ( a que já me habituei...diga-se)
Um abraço e obrigado
18 de Maio de 2010 15:23
caro amigo,
nem sabe quanto lhe fico grato pelo seu comentário, não pela vaidade que a idade vai desvalorizando em troca de algum reconhecimento, como há dias, em que me sinto "arvore" também, e gostei particularmente que tivesse apanhado o cerne do poema. pela sua agudeza no olhar e amizade posta no expressar tão rara em nós homens, o meu bem haja, e que haja mais encontros fecundos de inteligência, emoção e, porque não, um pouco de arte...
abraço amigo e obrigado
O ar pesa, para alem da cor, para alem do odor, para alem do som imperceptivel que geme quando o empurram e o fazem vento. Brisa nao... que esta denso de cansaco... Brisa nao que a doenca polui a periferia da alma.
De que padece o coracao?...
NOTA: os acentos inexistentes, sao da exclusiva responsabilidade dos teclados americanos. Mas o comentario impunha-se.
...feito o poema, ele não nos pertence mais...resta-me agradecer a companhia e o desejo de que seja FELIZ (vi no perfil...)enquanto o coração (dpois aurículos e dois ventrículos e o sangue no seu ritmado movimento)cumpre a sua função...
Gostei muito do poema, pese o ar pesado que se respira (mas o que me ficou foi uma sensação de que as palavras quando usadas com talento são um poderoso instrumento de comunicação e fruição).bj
Irretocável, eu diria! Lembrou-me um fragmento de umas das narrativas de Sartre, do seu livro O Muro...
A loucura como argumento, para quem não quer ver a vida que brota, nem que seja assim, num tom e num sabor carbono, um elemento desde sempre...
Parabéns! Lindo, lindo!
;)
...não posso deixar de sublinhar a argúcia e a cultura que os seus comentários revelam. é bom ter um um interlocutor assim: o "muro" de Sartre é uma obra-prima, a mera comparação é um estímulo sem preço!
obrigado pela partilha -:)
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