sexta-feira, 7 de maio de 2010

EUFRÁZIO FILIPE: OCULTA NO GRASNAR DAS AVES



Os barcos ainda não tinham

abandonado o chão das águas

já vergavas o corpo

na corda tensa

enterravas os pés

e deixavas os peixes saltarem

nos teus olhos prateados

Exilada no próprio corpo

emerges deusa quase perfeita

ao pôr do sol

num desencontro de preces


mas só quando a desoras

te abres em flor e desnudas

entregas o resto das forças

a um beijo

adormeces oculta

no grasnar das aves

Eufrázio Filipe

Foto: Pedro Soares

"Em todo o livro (o recém-editado Para Lá do Azul), o autor estabelece um subtil diálogo, mais pressentido que nomeado, entre um eu e um tu onde se respira uma delicada sensualidade que percorre quase todos os poemas e onde as palavras vão serenamente, desenhando uma trignometria imperiosa dos sentidos." in Prefácio de Arlindo Pato Mota

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