I
Cibele, acrisolada nos seus olhos húmidos, apelava à demasia da
vida, buscando na solidão alimento para a inquietude.
Sabia que, muitos anos volvidos, a repetição dos seus gestos, aparentemente inúteis,
eram como que uma flor resguardada de ventos, por entre o ímpeto reprimido de
paixões.
II
Dia a dia, mecanicamente, resistia ao luar e ao sol, a luz natural ofuscava-lhe essa
ténue alegria que guardava, secreta e compungida.
Certos dias, raros, chispavam em si o brilho do desejo, e viam-na caminhar,
solitária, o rosto e a voz ocultando o mais profundo do seu ser.
III
Que fazer, afinal, dessa flor tão serenamente resguardada,
cuja seiva era a dádiva de uns olhos permanentemente
húmidos?
IV
Nesse dia, igual a tantos outros, subitamente,
irrompera nela uma vontade, inesperada,
de partilhar o sonho, a maresia, o calor
ou a geada, mesmo que o tempo persistisse
a monótona cidadela de um Outono.
Soubera, enfim, que renascera para a vida.
Poema: apm
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1 comentário:
gostei particularmente de "apelava à demasia da vida" ; é uma imagem poética muito forte!
de resto gosto muito de todo o poema
joana
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