sexta-feira, 27 de março de 2009

RENASCER DE NOVO

I


Cibele, acrisolada nos seus olhos húmidos, apelava à demasia da

vida, buscando na solidão alimento para a inquietude.


Sabia que, muitos anos volvidos, a repetição dos seus gestos, aparentemente inúteis,

eram como que uma flor resguardada de ventos, por entre o ímpeto reprimido de

paixões.

II


Dia a dia, mecanicamente, resistia ao luar e ao sol, a luz natural ofuscava-lhe essa

ténue alegria que guardava, secreta e compungida.


Certos dias, raros, chispavam em si o brilho do desejo, e viam-na caminhar,

solitária, o rosto e a voz ocultando o mais profundo do seu ser.


III

Que fazer, afinal, dessa flor tão serenamente resguardada,

cuja seiva era a dádiva de uns olhos permanentemente

húmidos?

IV

Nesse dia, igual a tantos outros, subitamente,

irrompera nela uma vontade, inesperada,

de partilhar o sonho, a maresia, o calor

ou a geada, mesmo que o tempo persistisse

a monótona cidadela de um Outono.


Soubera, enfim, que renascera para a vida.



Poema: apm

1 comentário:

Joana disse...

gostei particularmente de "apelava à demasia da vida" ; é uma imagem poética muito forte!

de resto gosto muito de todo o poema

joana