quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

NO VENTRE PLENO DE UMA VAGA

Livres, as mãos tonificadas pelo frio e o

orvalho, colhem o entusiasmo das pétalas em

flor, enquanto, por entre o casario

tingido cor de fogo, as cegonhas vão

erguendo, pacientemente, a sua

arquitectura volátil.


Não muito longe, onde o mar açoitara

violentamente a praia, conta-se que, no

ventre pleno de uma vaga, aparecera, esguia

e alada, uma sereia, cujo canto ecoa,

sibilino, às horas mansas do fim da tarde,

inundando de um perfume inebriante e

bravio, o verde dos arrozais.


É meridional, Cibele, a memória, a dolência

da cor, o odor a rosmaninho, a trignometria

imperiosa dos sentidos.



Foto e poema: apm

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