terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

NAS LEVADAS



NAS LEVADAS

demiurga, a água

transborda

por sobre o próprio

corpo,

submergindo os dedos

que buscam

alento,

à medida que a torrente

se lhes escapa.


sorrateira, num ímpeto

de cantata,

penetra fundo,

como uma adaga

em peito aberto,

pela dor.



nas levadas,

os pássaros já não cantam

nas suas margens,

apenas ressoam

ecos, pouco audíveis,

da tragédia.




arlindo mota

foto: Turismo da Madeira


*As “levadas” são cursos de água à volta das montanhas, construídos pelo Homem nos primórdios da colonização na Madeira, para levar água aos terrenos agrícolas inacessíveis. Eram uma das atracções da Ilha.

2 comentários:

Unknown disse...

grande sensibilidade nesta evocação da tragédia da Madeira, em que as levadas são a pedra de toque. muito bom

arfemo disse...

Poema no rescaldo emotivo evocou-me as visitas tranquilas à improvável geografia da Madeira e às levadas (herança dos colonos portugueses e que os madeirenses inteligentemente transformaram em atracção turística)