quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

QUANDO EU ME FOR EMBORA




Quando eu me for embora, levarei comigo

a madrugada e de meu pai, suas mãos rudes,

com que moldava, a golpes incisivos, um tronco frágil

insubmisso, sempre em sentido vertical.

De minha mãe, não esqueço, a ternura que mandava, disfarçada,

por entre o pão suado e a manteiga. Assim cresci.


Quando eu me for embora, também não esquecerei os luares

que percorri, envolto em ti, sem precisar de leito. Assim cresci.


Mais tarde, pouco mais, hei-de lembrar-me daquilo que não fiz.

Mas quando eu me for embora, é porque morri, cá dentro,

por não saber cuidar de ti, amor-perfeito.




Poema: Arlindo Mota
Foto: Pedro Soares

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito lindo, gostei demais. Melancólico sem tristeza!

arfemo disse...

Obrigado Walkyria pela companhia atenta e gostar.

Joana disse...

Soberbo, numa palavra! Parabéns

mariam [Maria Martins] disse...

Arlindo,

já não vinha aqui há tanto!...

é muito bom ler a sua poesia, este poema é particularmente belo.

obrigada por partilhar...

um sorriso :)
mariam

arfemo disse...

Olá Joana,
obrigado pela amizade da companhia nesta viagem pela poesia

bj

arfemo disse...

Olá miriam,

este poema nasceu em circunstâncias especiais e de um fôlego (e se eu precisava que tal acontecesse)

gostei que gostasse...

bj :)