No Dia Mundial da Poesia foi um prazer colaborar neste pequeno livro colectivo de homenagem a Manuel Medeiros "O Velho Livreiro" que há poucos meses nos deixou. A tertúlia, dinamizada pela Fátima Ribeiro de Medeiros e pelos grandes mentores da iniciativa, o Hélder Moura-Pereira que selecionou os poetas e o José Teófilo que dirigiu o projecto gráfico e a produção, constituiu mais um pretexto para recordar o amigo que partiu, relançando com a Primavera mais umas sementes de promoção da livraria, dos poetas e da leitura.
segunda-feira, 31 de março de 2014
POEMAS PARA MANUEL MEDEIROS "O VELHO LIVREIRO"
No Dia Mundial da Poesia foi um prazer colaborar neste pequeno livro colectivo de homenagem a Manuel Medeiros "O Velho Livreiro" que há poucos meses nos deixou. A tertúlia, dinamizada pela Fátima Ribeiro de Medeiros e pelos grandes mentores da iniciativa, o Hélder Moura-Pereira que selecionou os poetas e o José Teófilo que dirigiu o projecto gráfico e a produção, constituiu mais um pretexto para recordar o amigo que partiu, relançando com a Primavera mais umas sementes de promoção da livraria, dos poetas e da leitura.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
CARTA DE CHAMADA
Foto: apm
arlindo mota
CARTA DE
CHAMADA
O embarque
fora breve, quando acordou
as malas há
muito repousavam no porão
num breve
olhar, bífido, sumariou as aves
enquanto
relia absorto a carta de chamada
buscando nos
mares a rota das gaivotas
que
sobrevoavam o navio ainda ancorado
estabelecendo
imprevisíveis sinapses
como
um farol alado sinalizando a costaarlindo mota
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
MEU AMIGO MANUEL
Contigo aprendi que os dias e as noites
não existem quando conversamos sobre livros
que os livros podem
ser orais ou escritos
- isso só descobrimos mais tarde -
Lembro-me das tuas palavras
isentando a vida do ónus do tempo
como quem diz não tenho pressa
que estou cá porque quero estar
de momento estás afónico e
não sabes se um dia
recuperarás a voz
eu continuarei a ler-te em braille
no meu canto preferido da livraria
mesmo junto ao chapéu e bengala
sinal inequívoco da tua presença
arlindo
mota
24 Outubro de 2013
(in memorian de
Manuel Medeiros “O Velho Livreiro”)
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
POETA DO MÊS: ANTÓNIO RAMOS ROSA
foto: apm
ATÉ ONDE VÓS ESTAIS
Oh presenças amigas, ó momento
em que alongo o braço e toco em cheio os rostos
A minha língua abriu-se para dizer a face
do vento que percorre as vossas vidas.
Estou perante a noite mais profunda,
a delicada noite das raízes: vejo rostos
vejo os sinais e os suores das vossas vidas.
Atravesso árvores submersas, ruas obscuras,
poços de água verde, e vou convosco ter,
Minhas faces lívidas, mãe, amigos, amores
A terra que penetro é este chão de terra
com as raízes feridas, com os ferozes pulsos,
A vertente que desço é uma subida às vossas vidas
António Ramos Rosa (1924-2013)
O Centro Na Distância, 1981domingo, 18 de agosto de 2013
POR VEZES ACONTECE...
foto: apm
POR VEZES ACONTECE…
exíguos catres, toscas e frágeis naus,
para o mundo que ousámos pesquisar,
nas viagens que fazemos companheira,
pelo mar que só distingo ao navegar.
por vezes acontece, um súbito momento
em que o grito dificilmente se sustém,
… e quem ali estiver na amurada
há-de sentir na voz que se anuncia,
por entre o vento suão e a nortada,
que o ser existe, o pensamento, a ira,
o desespero, o sonho e a loucura,
que tudo vale a pena, enquanto a vida dura.
arlindo mota
POR VEZES ACONTECE…
exíguos catres, toscas e frágeis naus,
para o mundo que ousámos pesquisar,
nas viagens que fazemos companheira,
pelo mar que só distingo ao navegar.
por vezes acontece, um súbito momento
em que o grito dificilmente se sustém,
… e quem ali estiver na amurada
há-de sentir na voz que se anuncia,
por entre o vento suão e a nortada,
que o ser existe, o pensamento, a ira,
o desespero, o sonho e a loucura,
que tudo vale a pena, enquanto a vida dura.
arlindo mota
terça-feira, 25 de junho de 2013
POETA DO MÊS: AL BERTO
VÊM SÔFREGOS
os peixes da madrugada
beber o
marítimo veneno das grandes travessias
trazem nas
escamas a primavera sombria do mar
largam minúsculos
cristais de areia junto à boca
e partem
quando desperto no tecido húmido dos sonhos
vem
deitar-te comigo no feno dos romances
para que a
manhã não solte o ciúme
e de novo
nos obrigue a fugir
vem
estender-te onde os dedos são aves sobre o peito
esquece os
maus momentos a falta de noticias a preguiça
ergue-te e
regressa
para olharmos
a geada dos astros deslizar nas vidraças
e os
pássaros debicarem o outono no sumo das amoras
iremos pelos
campos
à procura do
silente lume das cassiopeias
Al Berto
in Vigílias
quinta-feira, 6 de junho de 2013
PINTOR...
PINTOR
ignorando o rigor da geometria
usava as ferramentas do engenho
sobrava-lhe a dor quando sorria
mão decepada de argúcia e de traço
pintava com os olhos doloridos
ou pelo tacto
entre o afago de um goivo que se abria
ávidas, as mãos iam tecendo
a luz do dia
sem abrandar o passo
definia um estreito hiato
fímbria que mediava entre ela e a
vida
arlindo mota
sábado, 18 de maio de 2013
INICIAÇÃO
o amor é como o tempo, as estações,
o ciclo e o acaso, senão a intempérie
o ciclo e o acaso, senão a intempérie
por vezes acontece a inércia,
ou o escorrer do tempo entre os dedos,
como se os dias fossem só segundos
e os anos nos faltassem para viver.
mas a sabedoria dos astros nos ensina:
o horóscopo és tu.
arlindo mota
sexta-feira, 3 de maio de 2013
ANTÓNIO CANTEIRO: mãe
foto: apm
mãe
*Com a devida vénia. Este poema faz parte do
livro “O Silêncio Solar das Manhãs”,
obra recém-galardoada com o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama 2013,certame
criado em 1988, cujo júri integrou João Reis Ribeiro, José António Chocolate e
Arlindo Mota.
se à noite mãe!, de joelhos esmagados no
chão,
a voz
e as mãos coladas no peito, eu te ouvir
rezar…se à noite, mãe!, com os dedos das mãos
abertas, asas de gaivota no ar, iguais ao céu
nublado, eu te ouvir rezar… se à noite, mãe!,
a
pele das mãos, ninho cravado de rugas, teias
de
silêncio, a dormir no regaço, eu te ouvir
rezar…
se à noite, mãe!, à última força dos braços,
escreveres na parede, a palavra: «céu», és
andorinha que aprendeu a voar…
António Canteiro*
sexta-feira, 26 de abril de 2013
HOJE NÃO DESCI A AVENIDA...
painel de Mariana Dias, Kid´s Guernica 2011, Escola Anselmo de Andrade
não, não era o pólen como da outra vez…
hoje fiquei olhando do outro lado do rio
como se fora o dia de todos-os-santos
que vi tudo de negro ou os meus olhos já não vêm tanto?
hoje atravessei a ponte meia lisboa sob o meu olhar
e tu não estavas lá para me receber
porque te foste embora mãe?
desta vez não me tiravam dos teus braços
e a ponte já mudou de nome…
porquê as lágrimas mãe? onde está aquela força
disfarçada de sorriso enquanto me afagavas
e as sombras deambulavam pela casa?
não são perguntas mãe ou lendas de rainha
(nem cravos nem rosas)
a força que guardo das tuas mãos nas minhas
arlindo mota
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
ADIVINHA
Se os anos são primaveras
Em início de estação.
Adivinha em forma de ave:
Ainda faz ninho o Verão?
Pelos dias, pelas noites,
Em que a razão se desfia,
Se transforma, se recria:
Ternura, coita de amor?
Ou apenas mais um dia?
Solução: Inverta a cronologia.
arlindo mota
sábado, 22 de dezembro de 2012
NATAL
NATAL
É fogo e água em abundância,
E terra e ar que envolve a dor.
Natal é acaso e circunstância?
Natal é tudo isto...enquanto for.
arlindo mota
domingo, 9 de dezembro de 2012
OS FRUTOS PROMETIDOS
Seguros são os frutos prometidos,
Que colherás de tanto semeares,
Entre as searas abertas pelos dedos,
Que o vento ondulará quando quiseres.
arlindo mota
sábado, 1 de dezembro de 2012
QUANDO EU ME FOR EMBORA
QUANDO EU ME FOR EMBORA
Quando eu me for embora, levarei comigo
a madrugada e de meu pai, suas mãos rudes,
com que moldava, a golpes incisivos, um tronco
frágil
insubmisso, sempre em sentido vertical.
De minha mãe, não esqueço, a ternura que mandava, disfarçada,
por entre o pão suado e a manteiga. Assim cresci.
Quando eu me for embora, também não esquecerei, os luares
que percorri, envolto em ti, sem precisar de
leito. Assim cresci.
Mais tarde, pouco mais, hei-de lembrar-me daquilo que não fiz.
Mas quando eu me for embora, é porque morri, cá dentro,
por não saber cuidar de ti, amor-perfeito.
Arlindo Mota
Foto: apm
sábado, 10 de novembro de 2012
ÁGUA-FORTE
Pintei o seu rosto
com a tinta que restava,
diluída,
quase se não via
a minha obra.
mas ainda brilham
os olhos que gravara,
a água-forte, na memória,
e o espelho me devolve,
a toda a hora,
a sua ausência.
arlindo pato mota
POETA DO MÊS: JOÃO RUI DE SOUSA
JAMAIS A ORDEM COMO QUEM ORDENA
jamais a ordem como quem ordena
o que intimamente jamais quer
disciplina aqui é pôr a regra
bem perto do fio que mais recorde
vontade própria querer mais vigilância
no caminhar sem fim onde se ergue
ilimitada esperança sem fim onde se ergue
ilimitada esperança ou vida ou obra
existe a lei aqui mas não de pedra:
um livre rumo ao homem que se quer
em certa direcção quando navega
João Rui de Sousa
in meditação em samos
domingo, 28 de outubro de 2012
PAI, PARA QUE QUERIAS QUE EU FOSSE MAIS FELIZ?
tag: quase pueril...
PAI, PARA QUE QUE QUERIAS QUE EU FOSSE MAIS FELIZ?
Quando no duro empedrado de basalto inventávamos campos da bola onde disputávamos campeonatos intensos e eu aparecia todo esfolado mas não doía, tu ralhavas mas eu era feliz,
Quando a menina Júlia, que regressava de táxi todas as manhãs, ao sair do carro deixava entrever um pouco mais da branca pele por sob o rodado da saia, eu também não te dizia que estava lá à sua espera,
Da nossa vizinha, do andar de baixo, essa sabias, que me oferecia livros de que fiquei amigo para toda a vida: O "Sandokan" do Salgari, mas também o Júlio Dinis e Os meus Amores do Trindade Coelho, e tantos outros, de que jamais me desfiz,
Também te não falei da minha primeira namorada, que acompanhava à saída da escola todas as tardes, subindo as centenas de degraus, quase até sua casa, de mão dada, e de uma flor que, por timidez, nunca lhe dei,
Quando decidiste – eu crescera – mudar para um bairro novo de prédios grandes (mesmo que para isso labutasses noite e dia), onde se não podia jogar na rua e eu não conhecia ninguém, também não te disse como tanto gostava do bairro que acabara de deixar…
Pai, para que querias que eu fosse ainda mais feliz?
arlindo mota
foto: apm
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
DANÇA DAS CORES
Está de moda, dizes, o fogo de artifício,
cores e efeitos, sob um céu estrelar.
No sentido inverso à direcção do vento,
entre as amuradas dos navios ancorados,
sopra uma inesperada brisa terna e cálida,
que afaga delicadamente os nossos corpos.
Nesta dança de cores e sentimentos,
é a festa da luz, rodízio de ternura,
do azul ao cinzento, forma pura.
cores e efeitos, sob um céu estrelar.
No sentido inverso à direcção do vento,
entre as amuradas dos navios ancorados,
sopra uma inesperada brisa terna e cálida,
que afaga delicadamente os nossos corpos.
Nesta dança de cores e sentimentos,
é a festa da luz, rodízio de ternura,
do azul ao cinzento, forma pura.
arlindo mota
foto: apm
domingo, 23 de setembro de 2012
PRECOCEMENTE, O OUTONO
PRECOCEMENTE, O OUTONO
Dantes tinha muitos amigos, bebíamos e cantávamos
enquanto o rio desaguava a desoras no cais da ribeira, junto às margens do teu
corpo. Não tínhamos sede, nem pressa de chegar. A vida em delta, foi-nos
separando, mas tudo parecia continuar a fazer sentido.
Agora, os amigos desse tempo abrigam-se quase todos na
memória, o céu mudou de cor e já não há mar que nos sossegue.
Quero de volta o azul e não consigo. Telefono,
escrevo, envio mails, mas sinto-me estranho na vídeo-conferência.
Levantamos
os copos – que estão vazios ou meio-cheios – numa comunhão que antes entendia
ser perfeita e sinto que já não há sagração possível. O tempo, diz a
meteorologia e a cor dos teus cabelos, mudou...
arlindo mota
foto: apm
sábado, 15 de setembro de 2012
POETA DO MÊS: ALEXANDRE O`NEIL
PORTUGAL
Ó Portugal, se fosses só
três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de
cal,
jerico rapando o espinhaço
da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um
vento
testastarudo, mas embolado
e, afinal, amigo, se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal, o manso
boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de
lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do
estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático
das praias,
o grilo engaiolado, a grila
no lábio,
o calendário na parede, o
emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só
três sílabas
de plástico, que era mais
barato!
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
SUMÁRIO BREVE
SUMÁRIO BREVE
Comemorámos nosso dia de
anos
Eu, numa margem, tu na
outra,
Entre paisagens ainda
apetecidas
- Nisso não houve
discrepância
…………………………………………
…………………………………………
Sumariámos, céleres, o
assunto
O vento, de nortada,
selou a despedida
arlindo mota
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
A PRIMEIRA PEDRA
Foto de apm de uma escultura de Rodin
A PRIMEIRA PEDRA
A
amálgama daqueles dois corpos
restituíra a cor ao espelho de água
-
impregnado de sombras e limos -
como
se fora a primeira pedra
Escultores
de linho, os dedos
cinzelavam
a silhueta dos corpos
fixando
as pregas, insinuando as
formas, destacando as faces,
enquanto as águas indolentes do lago
-
onde se soerguia uma sereia -
se espraiavam por entre o casario
arlindo mota
arlindo mota
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