domingo, 16 de outubro de 2011

ESCRITOR DO MÊS: LUIZ PACHECO


Encontrámo-nos meia dúzia de vezes, separados pelo tempo e pela geografia: primeiro na "Estampa", quando integrava a equipa dos amigos Manso Pinheiro que haviam adquirido a editora e Luiz Pacheco era um dos seus autores. Mais tarde em Setúbal,já o tempo havia cavado fundo na energia e capacidade criativa de LP, mesmo assim sempre de língua afiada para os que arvoravam a hipocrisia como sua matriz. Depois fui acompanhando as entrevistas que foram sendo publicadas e que eram a sua "prova de vida". Viveu o tempo suficiente para saber que o seu talento fora reconhecido. Com ele morreu muito do pouco que resta de uma certa maneira de fazer literatura, de que terá sido o seu principal representante , em que a vida se confundia com a própria arte da escrita. Até sempre. apm"


Ora deixem-me que lhes diga: um cadáver não nunca tem terá razão, mesmo que a tivesse tido antes. Um estúpido um cobardola é para rir e chorar, porque a estupidez e o medo não têm medida. Um patareco dá-se-lhe um pontapé no cu, um parasita esborracha-se por nojo e a um folião fazemos notar que não lhe achamos graça nenhuma. E fugi dos frustrados e falhados que é a malta mais tratante e castradora que existe. Mas um bebé! uma rapariga com um filho ao colo! os bambinos em volta! são os bichos mais exigentes e precisados de tudo. E há que lhes dar tudo. Eis, senhores, porque saúdo a manhã e faço gosto em a ver inda uma vez, eis porque a pardalada me incita. (...) Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis, se as praticardes." Luiz Pacheco in A COMUNIDADE

2 comentários:

Canto da Boca disse...

Arlindo, só tenho a agradecer pela oportunidade de conhecer Luiz Pacheco, pelo antepasto que tive aqui, percebo que é um banquete nababesco, para mais de 400 talheres. E como faz falta para os dias de hoje, daquém e além mar, uma figura do gabarito deste que ora se vos nos apresenta, obviamente que ele não descobriu a pólvora, mas isso é pura explosão: "a estupidez e o medo não têm medida". Bem apropriado para o momento.

Cumprimentos!

arfemo disse...

Luiz Pacheco foi um mais originais e dispersos autores de língua portuguesa. Pena, pois talento era de sobejo e a obra acabou por ser demasiado escassa. Polemista dos maiores, a sua actividade de editor marginal proporcionou-nos a leitura de eminentes vultos da nossa literatura.

Abraço!
:)